O corpo humano talvez seja a mais criativa e surpreendente
invenção de todo o universo. Nosso corpo parece ter sido planejado para nos
salvar e nos ajudar a lidar com todo o tipo de perigo. Em pequenos fatos do
cotidiano podemos ver o quanto essa máquina é programada para nos manter em
equilíbrio.
Tomemos como
exemplo um corte no braço. Em poucos minutos, o corpo reconhece que há um
ferimento e aciona uma série de reações
mecânicas e bioquímicas que fazem o corte parar de sangrar. Quando o
sangue entra em contato com o ar, reage de maneira diferente e começa a
coagular. O sangue fica cada vez mais espesso e, em pouco tempo, uma crosta
está formada, tamponando totalmente o sangramento provocado pelo ferimento.
Depois de alguns dias, essa crosta cai, e toda a área que estava abaixo dela se
encontra sadia novamente.
O mesmo mecanismo
de proteção é acionado quando nos engasgamos com algum tipo de comida ou
bebida. O engasgo sinaliza que algo sólido ou líquido entrou no local errado.
No caso, esses locais são a traqueia que é um tubo capacitado para levar o ar
inspirado pelo nariz ou pela boca em direção aos pulmões. A traqueia não
transporta outro tipo de substância que não seja gasosa. Assim, quando
engasgamos, automaticamente tossimos e regurgitamos, e a comida ou a bebida é
lançada para fora da traqueia com grande
velocidade. Continuamos a tossir, até que os visitantes indesejados
(comida e/ou bebida) estejam totalmente fora da nossa traqueia Tanto no caso
do ferimento como no engasgo, tudo ocorre de forma automática, como uma máquina
perfeita. Não importa se estamos dormindo ou acordados, somos ricos ou pobres,
geniais ou de inteligência limitada: nosso corpo fará tudo para nos socorrer,
automaticamente.
Um tipo de proteção
automática do corpo é a reação do medo. Imagine-se andando por uma rua estreita e de repente, avançam em sua direção
dois cachorros da raça bull terrier,
que rosnam, expondo seus dentes brilhante entre saliva que escorre por suas
mandíbulas. Se você, por um acaso, quisesse racionalizar o que fazer, provavelmente
processaria os seguintes pensamentos: Eles
são cachorros; são ferozes estou em perigo! O que devo fazer? Acho que devo
correr!
Bem, se você pensasse
tudo isso antes de correr, possivelmente já estaria morto e dilacerado, antes
mesmo de concluir seus pensamentos. Mais fique tranqüilo, pois, nessa situação,
seu corpo reagiria automaticamente, de maneira ultra-rápida, e você já estaria
correndo há muito tempo. Provavelmente já teria se abrigado em algum lugar
seguro.
Sem você se dar
conta, uma overdose de adrenalina é injetada na corrente sanguínea e, a partir
daí, toda uma reação se processa naturalmente: o coração dispara, o suor toma
conta da pele, os músculos se contraem para entrar em ação a respiração se
torna mais acelerada e, sem que tenha tempo de pensar, em frações de segundos,
você estará correndo como um leopardo ou lutando com os cachorros como uma fera
enlouquecida. Esta é a reação do medo que existe para nos salvar de todos os
perigos.
É curioso observar
que o medo daquelas feras foi capaz de desencadear em nosso organismo todas
essas mudanças e, em momento algum, tivemos medo dessas reações em nosso corpo.
Os próprios sentimentos não nos incomodam porque sabemos exatamente a razão
disso tudo. Eles fazem parte de nossa reação do medo.
A reação do medo, também chamada de “luta ou fuga”, está no
centro de vários transtornos do comportamento (ou mentais), conhecidos como transtornos de ansiedade. As sensações
envolvidas na reação do medo normal (como instinto de defesa) ou no ataque de
pânico (sensação de medo intenso, súbito e anormal) são exatamente as mesmas:
taquicardia, sudorese, aceleração da respiração, tremores, boca seca,
formigamentos, calafrios etc. A única diferença – e esta é a grande
diferença – é que, no caso dos cachorros, nós sabemos exatamente por que
reagimos daquela maneira (por medo das feras). Já no pânico, por exemplo, nós
não conseguimos identificar um fator desencadeante ou um estímulo óbvio para
causar sentimentos tão fortes.