terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A reação do medo: reação de luta ou fuga






   O corpo humano talvez seja a mais criativa e surpreendente invenção de todo o universo. Nosso corpo parece ter sido planejado para nos salvar e nos ajudar a lidar com todo o tipo de perigo. Em pequenos fatos do cotidiano podemos ver o quanto essa máquina é programada para nos manter em equilíbrio.

   Tomemos como exemplo um corte no braço. Em poucos minutos, o corpo reconhece que há um ferimento e aciona uma série de reações  mecânicas e bioquímicas que fazem o corte parar de sangrar. Quando o sangue entra em contato com o ar, reage de maneira diferente e começa a coagular. O sangue fica cada vez mais espesso e, em pouco tempo, uma crosta está formada, tamponando totalmente o sangramento provocado pelo ferimento. Depois de alguns dias, essa crosta cai, e toda a área que estava abaixo dela se encontra sadia novamente.

   O mesmo mecanismo de proteção é acionado quando nos engasgamos com algum tipo de comida ou bebida. O engasgo sinaliza que algo sólido ou líquido entrou no local errado. No caso, esses locais são a traqueia  que é um tubo capacitado para levar o ar inspirado pelo nariz ou pela boca em direção aos pulmões. A traqueia não transporta outro tipo de substância que não seja gasosa. Assim, quando engasgamos, automaticamente tossimos e regurgitamos, e a comida ou a bebida é lançada para fora da traqueia com grande  velocidade. Continuamos a tossir, até que os visitantes indesejados (comida e/ou bebida) estejam totalmente fora da nossa traqueia  Tanto no caso do ferimento como no engasgo, tudo ocorre de forma automática, como uma máquina perfeita. Não importa se estamos dormindo ou acordados, somos ricos ou pobres, geniais ou de inteligência limitada: nosso corpo fará tudo para nos socorrer, automaticamente.
   Um tipo de proteção automática do corpo é a reação do medo. Imagine-se andando por uma rua  estreita e de repente, avançam em sua direção dois cachorros da raça bull terrier, que rosnam, expondo seus dentes brilhante entre saliva que escorre por suas mandíbulas. Se você, por um acaso, quisesse racionalizar o que fazer, provavelmente processaria os seguintes pensamentos: Eles são cachorros; são ferozes estou em perigo! O que devo fazer? Acho que devo correr!

   Bem, se você pensasse tudo isso antes de correr, possivelmente já estaria morto e dilacerado, antes mesmo de concluir seus pensamentos. Mais fique tranqüilo, pois, nessa situação, seu corpo reagiria automaticamente, de maneira ultra-rápida, e você já estaria correndo há muito tempo. Provavelmente já teria se abrigado em algum lugar seguro.

   Sem você se dar conta, uma overdose de adrenalina é injetada na corrente sanguínea e, a partir daí, toda uma reação se processa naturalmente: o coração dispara, o suor toma conta da pele, os músculos se contraem para entrar em ação a respiração se torna mais acelerada e, sem que tenha tempo de pensar, em frações de segundos, você estará correndo como um leopardo ou lutando com os cachorros como uma fera enlouquecida. Esta é a reação do medo que existe para nos salvar de todos os perigos.

   É curioso observar que o medo daquelas feras foi capaz de desencadear em nosso organismo todas essas mudanças e, em momento algum, tivemos medo dessas reações em nosso corpo. Os próprios sentimentos não nos incomodam porque sabemos exatamente a razão disso tudo. Eles fazem parte de nossa reação do medo.

   A reação do medo, também chamada de “luta ou fuga”, está no centro de vários transtornos do comportamento (ou mentais), conhecidos como transtornos de ansiedade. As sensações envolvidas na reação do medo normal (como instinto de defesa) ou no ataque de pânico (sensação de medo intenso, súbito e anormal) são exatamente as mesmas: taquicardia, sudorese, aceleração da respiração, tremores, boca seca, formigamentos, calafrios etc. A única diferença­­­­­­ – e esta é a grande diferença – é que, no caso dos cachorros, nós sabemos exatamente por que reagimos daquela maneira (por medo das feras). Já no pânico, por exemplo, nós não conseguimos identificar um fator desencadeante ou um estímulo óbvio para causar sentimentos tão fortes.

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